Quem é o Capitão América na fila do pão?

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Quem é o Capitão América se comparado a Ogum com sua reluzente espada,  sempre sedento por um duelo? Pois é, foi provavelmente o que o jovem artista brasileiro Hugo Canuto, de trinta anos, também deve ter se perguntado ao recriar, em agosto do ano passado, uma série de capas clássicas de Os Vingadores, da Marvel, os quais estouraram nos Estados Unidos nos anos sessenta. O artista decidiu substituir os famosos personagens, que hoje fazem parte da cultura ocidental, por Orixás – divindades das religiões afro-brasileiras modernas.

Ninguém precisa ter um doutorado em antropologia da imagem para sacar que os super-heróis surgidos em “comic books” em meados do século passado naquele país adquiriam uma função de nova mitologia norte-americana. Os gregos tinham Zeus, Atena, Posseidon e Afrodite; os romanos tinham Minerva, Marte, Dionísio e Vênus; Os nórdicos tinham Thor, Odin, Loki e Frigg. Nos Estados Unidos nasceram o Homem de Ferro, Flash Gordon, o Homem-Aranha, Surfista Prateado, o Super-Homem (DC Comics). Mas quem é o Capitão América na fila do pão?

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Olhar sobre a influência da mitologia africana na cultura brasileira, ao estilo Jack Kirby (um dos mais prolíferos e famosos quadrinistas de todos os tempos), é algo que – vamos ser honestos – não poderia acontecer a esmo em qualquer canto do Brasil. O artista é natural de Salvador/BA e é fã de longa data da Marvel e de tudo que é referente à cultura de quadrinhos em geral. E como qualquer fã de heróis que se preze, o quadrinista baiano cresceu lendo o universo de Thor, Conan e Super-Homem, personagens inspirados em mitologias distantes, mas que nunca tiveram dificuldade de assimilação por parte dos leitores brasileiros.

Caiu então a ficha na cabeça do autor, que já visitara outras culturas em “A Canção de Mayrube”, inspirada nos povos latinos: Por que o deus nórdico, na ficção da Marvel, é um super-herói e Xangô, guerreiro africano, é considerado um demônio? “Por que aquilo que é brasileiro, que faz parte da cultura do país, é vista dessa maneira negativa e esse mesmo arquetípico da cultura euro ocidental é vista como herói?”, questiona.

“The Orixás”, nome que propositalmente mescla o inglês com o português, veio a público um dia após a data em que o lendário mestre Kirby, que o inspirou, faria 99 anos se estivesse vivo. Ele postou sua homenagem despretensiosa no Facebook. A ilustração, entretanto, foi recebida com uma onda de curtidas e compartilhamentos. Canuto criou então capas fictícias para cada Orixá e decidiu bancar um projeto de verdade. Recusou ofertas de editores e foi para o conhecido crowdfunding. A “vaquinha” iniciada em novembro bateu sua meta de R$ 12 mil logo nas primeiras semanas – e encerrou a arrecadação com R$ 40 mil.

Mas o projeto vai além de transformar os Orixás em meros arquétipos. “A história que eu estou construindo se situa no tempo lendário, no passado mítico, em que céu [Òrun] e terra [Àiye] é um só. Não tem como ser maniqueísta. Eles são muitos complexos, não se reduzem a bom e ruim”, explica Canuto. “Quero trazer esse universo para uma mídia que ainda é muito eurocêntrica, muito ligada a temas norte-americanos. Trazer algo que é tão vítima de preconceito, que é combatida por movimentos reacionários, para uma linguagem diferente e fazer com que as pessoas olhem de outra maneira”, observa o baiano. “Fiz uma ponte entre duas realidades”.

Confiram aqui algumas das imagens.

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Fonte: UOL; Nerdcore ; Dangerous Minds.

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